A alta dos preços de alimentos virou foco de preocupação do governo federal, em razão do potencial de desgaste que pode trazer para a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao longo da semana, o assunto foi tema de uma série de reuniões realizadas no Palácio do Planalto, e o Executivo prepara medidas para incentivar o aumento na produção e, consequentemente, aliviar o bolso dos consumidores.
De acordo com uma pesquisa feita pela Quaest, a economia piorou 38% da população nos últimos 12 meses, um aumento de sete pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, de dezembro de 2023. Além disso, 73% apontaram alta no preço dos alimentos.
Na última quinta-feira (14), o presidente recebeu um diagnóstico do problema em um encontro com as participações dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Carlos Fávaro (Agricultura), além do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto.
Os ministros disseram que o governo federal espera que o preço dos alimentos recue a partir de abril. Fávaro afirmou que o governo já identificou uma queda em torno de 20% no preço da saca de arroz. Os preços dos alimentos consumidos nos domicílios vêm subindo acima da inflação desde outubro do ano passado. Em janeiro e fevereiro, a alta chega a 2,95%, ou seja, mais que o dobro do 1,25% do IPCA, índice oficial de inflação, deste ano. Ao divulgar o IPCA, na última terça-feira, o IBGE explicou que os valores têm sido impactados pelo clima desde o fim do ano passado.
“Para a sociedade estar feliz com o governo, é preciso que a economia e o salário estejam crescendo, e o preço da comida esteja baixando”, disse Lula na segunda-feira, em entrevista ao SBT.
Para Luís Otávio Leal, economista-chefe da gestora de investimentos G5 Partners, a inflação dos alimentos tem algum efeito sobre a queda na popularidade do governo. Mas o noticiário negativo das últimas semanas, como a “fuga de presos de penitenciária federal em Mossoró (RN), tensões nas relações com Israel e efeitos negativos sobre as ações de Petrobras e Vale por causa da interferência política”, diz, parece ter pesado mais.
Por isso, a adoção de medidas para tentar conter a inflação de alimentos poderá surtir efeito positivo na popularidade, já que o governo poderá colher os louros mesmo que os preços caiam ou arrefeçam por conta da sazonalidade típica, como todos os anos, alívios nos preços de alimentos são esperados de abril em diante.
Na campanha em que derrotou o então presidente Jair Bolsonaro, Lula usou como um dos elementos para tentar desgastar o adversário o preço dos alimentos, como churrasco e cerveja. Lula dizia que os brasileiros “voltariam a comer picanha”, enquanto Bolsonaro retrucava afirmando que o valor pago na época pelo Auxílio Brasil, que voltou a se chamar Bolsa Família, comprava mais picanha do que nas gestões petistas.
Lula recebeu dos ministros um plano de ação para tentar solucionar o problema rapidamente. As altas são atribuídas pelos ministros a fatores climáticos, como as altas temperaturas no Centro-Oeste e as enchentes no Sul. Uma das ideias é que o Plano Safra dê incentivo à produção de alimentos, como trigo, milho, mandioca e feijão. Outra é estimular que a produção de arroz, muito concentrada no Sul, se expanda para o Centro-Oeste e o Nordeste. Isso reduziria os custos com transporte.
O presidente da Conab disse que o órgão vai garantir renda aos produtores que decidirem cultivar arroz, feijão, mandioca e hortaliças. Na avaliação de Leal, da G5 Partners, medidas como usar estoques da Conab ou facilitar a importação de alimentos que estejam com problemas de safra podem surtir algum efeito e são “de mercado”, com baixo custo para os cofres públicos.
São diferentes, portanto, de medidas como o controle de preços de combustíveis pela Petrobras ou o adiamento de reajustes da conta de luz e dos transportes públicos, adotadas no governo Dilma Rousseff, que provocaram desequilíbrios posteriores.
/O Globo